Abaixo crônica do jornalista Emanuel Neves, autor do livro "A Noite das Asas Vermelhas". Recomendo a leitura para todos Torcedores Vermelhos. Tenho o livro para EMPRESTAR.
por Emanuel Neves
Nada é relevante até a quinta-feira da próxima semana. Olhe para o lado. O mundo está parado. Note como o relógio travou. Seus problemas são irrelevantes. Sua mãe é irrelevante. Sua existência é irrelevante! A vida é uma camisa vermelha. Nada mais. É hora de ir aonde ninguém foi.”
Eu jamais vivi noites como aquelas de 2006. Parecia que o Gigante havia guardado sua mística por anos e resolvera libertá-las, de uma só vez. Pela Padre Cacique, nos dias de guerra, era possível sentir a estrutura viva urrando, como um titã alvi-rubro. E nada podia contra ele. Erguida por asas vermelhas, a mágica que emanava das margens do Guaíba ganhou os céus e pintou a América. Depois, brincando de Deus, mudou a cor do mundo. E nós dormimos chorando o domingo mais feliz da história. Mas chegou a hora de acordar. Abre teus olhos, guerreiro!
Hoje é dia de guerra outra vez. E eu vou pelear contigo. Porque eu sou um seguidor. E nada me separa. Nessa madrugada, meu povo fingiu ser Zeus e, munido de trovões, fez o sono deles virar um estrondoso pesadelo. Como as bombas de Waldomiro, os fogos explodiram nas nuvens e deram o recado: “Essa é a terra do Internacional, dono da América e do Mundo. Bem vindo ao inferno”. No crepúsculo do dia, o céu e o chão serão rubros como um demônio. A sinfonia ensurdecedora, a gritaria intermitente, o brado enlouquecedor e sem fim provará que, nas horas ruins, eu estou contigo. E os charruas dobrarão a espinha. Uma, duas, três vezes! Ou quantas forem necessárias.
Tal qual Jorge, eu vestirei minhas armas. Meu manto escarlate é mil vezes bendito. Purificado com o suor de Tesourinhas, Larrys e Figueroas. Imaculado pelo sangue de Índios, Bodinhos e Caçapavas. Eu trarei no peito o escudo que identifica o meu destino, traçado antes do berço. Por onde eu andar, nesse ou em qualquer mundo, ele estará comigo. É meu maior dever. Minha maior honraria. Eu não quero orações. Não preciso delas. Vou rezar meu grito, não importa a religião. Vou gritar minha reza, não importa o meu pulmão.
Embaixo do placar, sob a benção das barras. Na curva sul, tocado pelas bandeiras de quase quatro décadas. Não interessa o que passou. Não interessa o que disseram. A essência é sempre Inter. E nada mais.
Eu não quero milagres. Não preciso deles. Quem ergue um Gigante sobre as águas pode tudo. Eu não quero santos. Não preciso deles. Minha divindade é vermelha e feita de concreto. É só nela que eu creio. À sua frente, eu me ajoelho e reverencio sua grandeza infinita. Eu não quero promessas. Não preciso delas. Meu juramento de colorado é eterno e irrevogável. Enquanto o pendão encarnado e branco dançar no sopro do Minuano, eu sei que o Impossível duvidará de si mesmo.
Faz tua parte, guerreiro. Abre teus olhos. Porque hoje é dia de guerra outra vez.
E eu vou pelear contigo.
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